Um mundo de
mistérios se esconde por trás dos
pequenos anúncios. Nunca pude avaliar, pelas suas fórmulas, quais as suas verdadeiras
intenções, fico a imaginar se o desespero de quem vende está na mesma proporção
emocional de quem quer comprar. Objetos perdidos, quase sempre de estimação,
documentos importantes cachorrinhos desaparecidos, tudo na base do
"gratifica-se bem". Mas o que é gratificar bem, por exemplo, a uma
pessoa que acha uma carteira com pouco dinheiro?
Acho que há
um pouco de ironia e de deboche da parte de toda pessoa que põe um anúncio - e
muito boa vontade da parte de quem acha que ali está a sua oportunidade. Há
vários anos que encontro promessas de "lugar de futuro" e acho
incompreensível que esse futuro não chegue nunca, e que as vagas continuem
sempre disponíveis. Ou as pessoas acabam por descobrir que o seu futuro está
fora dali ou são outras firmas que estão se iniciando para oferecer novos
futuros a futuros candidatos. Há uma certa ilusão de lado a lado: quem anuncia
o futuro dos outros está pensando no seu presente e quem procura o seu futuro
no presente de quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros.
Até que
ponto é sincero um anúncio que procura moças de "boa aparência", de
18 a 25 anos. com prática de datilografia e um mínimo de 150 batidas cartas por
minuto? É tão necessário que sejam todas as batidas certas?
E esses que
vivem vendendo objetos, um de cada vez. "por motivo de viagem?" Será
que o dinheirinho de um aparelho de televisão ou de uma máquina de costura ou
de um gravador último tipo lhes pagará a passagem? Talvez a viagem seja consequência:
depois de vender os objetos. o melhor será mesmo abandonar a cidade. E os
técnicos?
E impressionante
como tem gente especializada anunciando sua especialidade. Mecânicos e
eletricistas montam e desmontam qualquer aparelho em menos de cinco minutos, e
no fim sempre nos entregam três ou quatro parafusos que não têm a menor utilidade.
Penso na economia monstruosa que as fábricas fariam se, ao montarem seus
aparelhos, houvessem contratado os técnicos do "atende-se a
domicílio".
ELLIACHAR, Leon. O
Homem ao Cubo. Rio de Janeiro.
Ed. Francisco Alves
S.A., 8ª ed. (adaptado).
01. Ao falar de "pequenos
anúncios", o autor refere-se:
a) Essencialmente aos que tratam de empregos.
b) Especificamente aos que oferecem serviços.
c) Exclusivamente aos que falam de objetos
perdidos.
d) Genericamente a vários tipos de anúncios.
e) Somente aos anúncios de compra e venda.
02. A expressão que não aparece nos
anúncios que o autor menciona é:
a) "lugar de futuro"
b) "gratifica-se bem"
c) "procura-se uma explicação"
d)
"atende-se a domicílio"
e) "por motivo de viagem"
03. Conforme o texto, os técnicos que anunciam
sua especialidade:
a) Trabalham com rapidez, mas não conseguem
encaixar todas as peças de um aparelho.
b) Trabalham melhor que os das fábricas,
resultando disto maior economia para as montadoras.
c) Entendem mais da montagem dos aparelhos que os
técnicos das fábricas de eletrodomésticos.
d) Duvidam da competência dos mecânicos e
eletricistas das grandes fábricas.
e) Pretendem conseguir uma contratação como
mecânicos eletricistas em firmas conceituadas.
04. As "fórmulas" dos anúncios a que
se refere o autor dizem respeito:
a) A especificação d) A alegria
b) A quantidade e)
A correção
c) Ao argumento
05. Assinale a opção que expressa o
significado da seguinte frase do texto:
"...quem procura o seu futuro no presente de
quem anuncia acaba é fazendo o futuro dos outros".
a) Quem oferece melhoria de vida aos outros
através de anúncios pretende melhorar a própria vida.
b) Aquele que pretende encontrar boas
oportunidades nos anúncios proporciona lucros ao anunciante.
c) O anunciante projeta seus atuais objetivos nas
pretensões dos leitores.
d) Quem busca o seu futuro no futuro dos outros
prejudica irremediavelmente seu presente.
e) O anunciante procura melhorar a vida do leitor
independentemente de suas intenções.
06. A função de linguagem predominante no
texto é:
a) Metalinguística d) Apelativa
b) Emotiva e)
referencial