Leia o Texto I para
responder às questões de 1 a 8
Texto I
O novo ativista digital
O paulista Renan Fernandes, de 22 anos, é um observador atento da
conjuntura política e social do país. Participa das discussões no centro
acadêmico da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, onde cursa o 5°
ano. Ele dá aulas voluntariamente no cursinho pré-vestibular para estudantes
carentes que funciona na faculdade. No dia 13 de junho, quando 5 mil
manifestantes protestavam nas ruas do centro de São Paulo, ele era um deles.
“Sou usuário do transporte público e queria ajudar a lutar por uma tarifa mais
justa”, afirma Fernandes. Ele diz ter sido atingido por uma bala de borracha
disparada pelos policiais, afirma que viu uma amiga ser ferida pelos projéteis
e outra queimar as mãos, depois de ser atingida por uma bomba de gás
lacrimogêneo. Revoltado, organizou um abaixo-assinado na internet para
protestar contra a ação violenta da polícia. Em menos de uma hora, o texto
ganhou quase 1.000 assinaturas. Hoje, está com quase 6 mil. Se chegar à marca
dos 7.500, Fernandes promete entregar o documento ao governador do Estado,
Geraldo Alckmin. Fernandes diz que, mesmo que os policiais não sejam punidos, o
importante é protestar. “Quero espalhar informação e conscientizar as pessoas”,
afirma.
Os milhares de manifestantes que ganharam as ruas do Brasil nas últimas
semanas são parecidos com Fernandes. São jovens que descobriram na internet uma
ferramenta poderosa para lançar e organizar protestos: contra a má qualidade
dos serviços públicos, contra a corrupção, contra a violência da polícia e,
sobretudo, contra tudo o que eles consideram abaixo de suas elevadas
expectativas em relação à situação econômica e social do Brasil.
Os jovens se tornaram mais
exigentes por dois motivos. Primeiro, porque aumentou o nível de escolaridade.
Eles estão mais instruídos. Segundo dados do INEP, o Instituto de Pesquisas do
Ministério da Educação, entre os jovens de 18 e 24 anos, aqueles que cursavam o
nível superior passaram de 15%, em 2002, para 29,9%, em 2011. O segundo motivo
é a crise econômica. O crescimento brasileiro, que chegou a ser de 7% ao ano,
caiu para menos de 1% no ano passado, arrastando com ele a possibilidade de
melhoria rápida no padrão de vida dos brasileiros, sobretudo os mais jovens. O
país não conseguiu cumprir a expectativa de realização pessoal criada entre os
jovens urbanos.
Há dois anos, na Espanha, o
movimento Indignados promoveu uma série de protestos contra as altas taxas de
desemprego no país – e aproveitou para pedir o fim da corrupção e melhorias na
educação, saúde, cultura. Reivindicações muito parecidas com as do movimento
americano Occupy Wall Street. “As multidões têm hoje instrumentos para se
organizar e se reunir quase instantaneamente, pelas redes sociais como o
Twitter e o Facebook”, afirma o sociólogo espanhol Manuel Castells, “O novo
espaço público, formado pela interseção do universo virtual com o local, gerou
um contrapoder: pela primeira vez na história, as forças de mudança reúnem
força e condições de encurralar o poder."
A força contestadora da juventude – no Brasil, na Turquia, nos Estados
Unidos, na Espanha – é historicamente a força motriz de um processo de saudável
renovação social. “Os jovens estão em busca de independência e esbarram nos
limites da família, das instituições, da sociedade. É natural que tentem
derrubá-los”, diz a educadora Ana Karina Brenner, pesquisadora do Observatório
Jovem do Rio de Janeiro, da Universidade Federal Fluminense. No Brasil,
organizaram-se clandestinamente e marcharam para derrubar a ditadura militar.
Nos anos 1980, num mundo marcado pela competição entre capitalismo e
socialismo, os sonhos da juventude se tornaram mais materialistas. Os jovens
queriam exercer suas competências e ascender economicamente. Nos Estados
Unidos, ficaram conhecidos como yuppies. No Brasil, queriam o direito de votar
para presidente e mobilizaram a sociedade numa das maiores campanhas já
realizadas no país, as Diretas Já.
De lá para cá, o país tem vivido um longo ciclo de normalização política
e econômica, que coincidiu com o surgimento da internet. A rede chegou para
mudar radicalmente a forma como vivemos e nos relacionamos. A geração surgida
dessas novas circunstâncias parece acreditar ser possível lutar pelo bem comum
sem abrir mão de suas ambições individuais. “Por ter crescido num ambiente de
estabilidade política e econômica, esse jovem está imbuído de um espírito
público de melhorias”, afirma Drica Guzzi, coordenadora de projetos da Escola
do Futuro da USP.
Alfabetizados num mundo regido pela rapidez da internet, conectados
globalmente, esses jovens mudaram a forma de fazer política e de engajar-se em
causas sociais. Disseminam, pelo Twitter, dicas de como se portar numa
passeata. “Eles têm ferramentas para se colocar como protagonistas e provocar
microrrevoluções. Associadas, elas causam grandes mudanças.”
“Eles são regidos por uma nova maneira de pensar e agir, influenciada
pela tecnologia”, afirma o publicitário Rony Rodrigues, presidente da Box 1824,
empresa de pesquisa especializada em tendências de consumo e comportamento
jovem.
A facilidade para disseminar campanhas pelas redes sociais também é
motivo de preocupação. Em meio a tantas informações e apelos, será que os
jovens conseguem se aprofundar nas discussões? O perigo é acabar encampando
causas sem entender os reais interesses por trás do movimento.
Ainda é cedo para saber se esse
vazio do engajamento digital prevalecerá. Um dos levantamentos mais extensos já
feitos sobre o assunto sugere perspectivas otimistas. A equipe liderada pelo
educador americano Joseph Kahne analisou a participação virtual e real de 3 mil
jovens americanos entre 15 e 25 anos. Os resultados sugerem que, entre aqueles
que participavam de alguma atividade política ou social nas redes sociais, 96% também
tomavam parte em formas tradicionais de engajamento, vinculadas a instituições.
“O ativismo digital é uma maneira complementar de trabalhar por mudanças”, diz
Kahne.
(Marcela Buscato e
Fillipe Mauro, com Júlia Korte, Luís Antônio Giron e Mariana Tessitore. Época.
31/07/2013. Adaptado)
01. De acordo com o
Texto I, a identificação do leitor com a temática central acontece,
fundamentalmente:
a) Com o descobrimento de um novo espaço público de manifestação, criado sob
os princípios materialistas da juventude.
b) Pela aparição e tentativa de afirmação da primeira geração de nativos
digitais brasileiros, regidos por uma nova maneira de pensar e agir.
c) Pela dificuldade para disseminar campanhas pelas redes sociais em meio a
tantas informações e apelos.
d) Com a crescente qualidade dos serviços públicos e, sobretudo, pela
interseção do universo analógico como uma maneira complementar de trabalhar por
mudanças
e) Pelo curto ciclo de normalização política e digital, que coincidiu com o
surgimento da internet, fazendo com que a geração proveniente dessas
circunstâncias tivesse uma nova forma de agir.
Com
base no Texto I e na charge abaixo, responda à questão 2.
02. A charge acima
apresenta um tema que se encontra no excerto:
a) “As multidões têm hoje instrumentos para se organizar e se reunir quase
que, instantaneamente, pelas redes sociais como o Twitter e o Facebook, afirma
o sociólogo espanhol Manuel Castells”.
b) “A rede chegou para mudar radicalmente a forma como vivemos e nos
relacionamos. A geração surgida dessa nova circunstância parece acreditar ser
possível lutar pelo bem comum”.
c) "Alfabetizados num mundo regido pela rapidez da
internet, conectados globalmente, esses jovens mudaram a forma de fazer
política e de engajar-se em causas sociais”.
d) “O novo espaço público, formado pela interseção do universo virtual com o
local, gerou um contrapoder: pela primeira vez na história, as forças de
mudança reúnem força e condições de encurralar o poder”.
e) “Num mundo marcado pela competição entre o capitalismo e o socialismo, os
sonhos da juventude se tornam cada vez mais materialistas. Os jovens querem
exercer suas competências e ascender economicamente”.
03. Nos trechos:
“[...] A geração surgida dessas novas circunstâncias parece acreditar ser
possível lutar pelo bem comum sem abrir mão de suas ambições individuais”. “Por ter crescido num ambiente de
estabilidade política e econômica, esse jovem está imbuído de um espírito público de melhorias”, o significado dos
enunciados destacados, respectivamente, de acordo com o contexto discursivo em
que são usados indica:
a) Vontade intensa // impregnado
b) Desejo veemente de alcançar algo // alheio
c) Adaptar-se a um ambiente
// impossibilitado
d) Pretensões // revoltado
e) Dúvidas // entranhado
Observe o gráfico 01,
relacionando-o com o Texto I, para responder à questão 4.
GRÁFICO 01:
PESQUISAS COM AS PALAVRAS “MANIFESTAÇÃO”,
“PROTESTO”, “VEM PRA RUA” E “DILMA ROUSSEFF”
04. A relação da
Temática do Texto I com a do Gráfico 1 acontece:
a) Com o surgimento de um novo espaço público de manifestação, criado
clandestinamente sob os princípios materialistas da juventude.
b) Pelo índice elevado do chamado ativismo digital como uma ferramenta
importante para desestabilizar os movimentos juvenis a partir da década de
noventa (1990).
c)
Pela dificuldade para
disseminar campanhas pelas redes sociais em meio a tantas informações e apelos,
pois muitos jovens nem entendem os interesses reais por trás dos movimentos.
d) Com a descoberta dos jovens por novos espaços
públicos de manifestação que, formados pela interseção de várias ideologias,
regem uma nova maneira de pensar e agir.
e) Pelo curto ciclo de normalização política e digital, que coincidiu com o
surgimento da internet, fazendo com que a geração proveniente dessas
circunstâncias tivesse uma nova forma de agir.
Observe a charge abaixo, relacionando-a com Texto I para responder à
questão 6.
05. A coerência diz respeito ao modo como os
elementos subjacentes à superfície textual vêm a construir, na mente dos
interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos. A charge acima apresenta
um tema que se encontra no excerto transcrito em:
a)
"De lá para cá, o
país tem vivido um pequeno ciclo de normalização política e econômica, que
coincidiu com o surgimento da internet”.
b)
“A rede chegou para mudar
radicalmente a forma como vivemos e nos relacionamos. A geração surgida dessa
nova circunstância parece acreditar ser possível lutar pelo bem comum”.
c)
“Alfabetizados
num mundo regido pela rapidez da internet, conectados globalmente, esses jovens
mudaram a forma de fazer política e de engajar-se em causas sociais”.
d)
“As multidões têm hoje
instrumentos para se organizar e se reunir instantaneamente”, igualmente quando
marcharam para derrubar a ditadura militar.
e)
“Num mundo marcado pela
competição entre o capitalismo e o socialismo, os sonhos da juventude se tornam
cada vez mais materialistas. Os jovens querem exercer suas competências e
ascender economicamente”.
06. Dê o significado dos enunciados destacados nos
períodos abaixo (respectivamente), de acordo com o contexto discursivo em que
estão sendo usados.
1-
“[...]
A força contestadora da juventude – no Brasil, na Turquia, nos Estados Unidos,
na Espanha – é historicamente a força motriz de um processo de saudável
renovação social”.
2-
“[...] A facilidade para
disseminar campanhas pelas redes sociais também é motivo de preocupação”.
a)
Que dá movimento //
propagar(-se)
b)
Desencadeadora// ocorrer
c)
Inspiradora // combater
d)
Facilitadora //
difundir(-se)
e)
Que dá modos // acontece
07. erceiro parágrafo, os autores do Texto I
referem-se ao crescimento brasileiro como [ele]. Esse mecanismo coesivo é
chamado de referência. Logo, entende-se este conceito como um(a):
a)
preenchimento de sentido
de um elemento a partir de outro elemento linguístico ou extralinguístico,
chamado de referente.
b)
apagamento de palavra que
pode ser recuperada pelo contexto.
c)
efeito expressivo que
caracteriza um desaparecimento total do sujeito da oração.
d)
repetição ou retomada de
um referente por hipônimos, hiperônimos ou expressões de sentido equivalente.
e)
irregularidade discursiva
que marca o encadeamento tópico do sujeito por sinônimos, substantivos, verbos
e preposições.
08. Com relação ao penúltimo parágrafo, o último
expressa:
a)
Restrição d)
Acréscimo
b)
Preocupação e) Contradição
c)
Explicação