Leia o texto abaixo
para responder às questões de 01 a 04
TEXTO I - Mendigo
Eu estava diante de
uma banca de jornais na Avenida, quando a mão do mendigo se estendeu. Dei-lhe
uma nota tão suja e tão amassada quanto ele. Guardou-a no bolso, agradeceu com
um seco obrigado e começou a ler as manchetes dos vespertinos. Depois me disse:
– Não acredito um
pingo em jornalistas. São muito mentirosos. Mas tá certo: mentem para ganhar a
vida. O importante é o homem ganhar a vida, o resto é besteira.
Calou-se e continuou
a ler as notícias eleitorais:
– O Brasil ainda não
teve um governo que prestasse. Nem rei, nem presidente. Tudo uma cambada só.
Reconheceu algumas
qualidades nessa ou naquela figura (aliás, com invulgar pertinência para um
mendigo), mas isso, a seu ver, não queria dizer nada:
– O problema é o
fundo da coisa: o caso é que o homem não presta. Ora, se o homem não presta,
todos os futuros presidentes serão ruínas. A natureza humana é que é de barro
ordinário. Meu pai, por exemplo, foi um homem bastante bom. Mas não deu certo
ser bom durante muito tempo: então ele virou ruim.
Suspeitando de que eu
não estivesse convencido da sua teoria, passou a demonstrar para mim que também
ele era um sujeito ordinário como os outros:
– O senhor não vê?
Estou aqui pedindo esmola, quando poderia estar trabalhando. Eu não tenho
defeito físico nenhum e até que não posso me queixar da saúde.
Tirei do bolso uma
nota de cinqüenta e lhe ofereci pela sua franqueza.
– Muito obrigado,
moço, mas não vá pensar que eu vou tirar o senhor da minha teoria. Vai me
desculpar, mas o senhor também no fundo é igualzinho aos outros. Aliás, quer
saber de uma coisa? Houve um homem de fato bom. Chamava-se Jesus Cristo. Mas o
senhor viu o que fizeram com ele?
(Para gostar de ler. Vol. 2.
São Paulo: Ática, 1978.)
01. Sobre a crônica,
assinale a afirmativa correta.
a) Intenciona
levar o leitor a refletir sobre a relação homem e qualidade de vida.
b) Aborda um momento na vida do mendigo, leitor de jornais, que se
posiciona frente às manchetes.
c) Contrasta
características inerentes a presidentes com as inerentes a jornalistas.
d) A
fala do mendigo, ao usar a si mesmo como exemplo de sujeito ruim, é um
argumento incoerente.
e) O cronista, no final do texto, mantém a mesma percepção
do mendigo tida no início.
02. As frases “Não
acredito um pingo em jornalistas.” E “São muito mentirosos.” Guardam
implícita uma relação de sentido de causa/consequência. Reescrevendo-as em um
único período e conservando esse sentido, ficaria:
a) Não
acredito um pingo em jornalistas, embora sejam muito mentirosos.
b) Não acredito um pingo em jornalistas, por serem muito mentirosos.
c) Não
acredito um pingo em jornalistas, apesar de serem muito mentirosos.
d) Não
acredito um pingo em jornalistas, mas são muito mentirosos.
e) Não
acredito um pingo em jornalistas, portanto são muito mentirosos.
03.
Assinale a alternativa que
apresenta a mesma ideia contida no seguinte trecho: “Meu pai, por exemplo,
foi um homem bastante bom. Mas não deu certo ser bom durante muito
tempo: então ele virou ruim.”
a) “Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.”
b) “O homem, que, nesta terra miserável,
mora, entre feras, sente inevitável
necessidade de também ser fera.”
c) “Um galo sozinho não tece uma manhã;
ele precisará sempre de outros galos.”
d) “Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena.”
e)
“Amigos para sempre
é
o que nós iremos ser
Na
primavera
e
em qualquer das estações”
Leia a frase abaixo
“Tirei do bolso uma nota de
cinquenta e lhe ofereci pela sua franqueza.”
04. Com relação a essa atitude do narrador, pode-se afirmar que o mendigo
a) passa a admirá-lo pelo gesto solidário.
b) começa a enxergá-lo como um ser menos nocivo à
c) sociedade.
d) não o vê melhor do que antes,
apesar da doação.
e) se coloca inferior ao narrador ao
receber tamanha quantia.
Texto para as
questões de 05 a 07
TEXTO II - Os
filhos do lixo
Lya
Luft
Há
quem diga que dou esperança; há quem proteste que sou pessimista. Eu digo que
os maiores otimistas são aqueles que, apesar do que vivem ou observam,
continuam apostando na vida, trabalhando, cultivando afetos e tendo projetos.
Às vezes, porém, escrevo com dor. Como hoje.
Acabo
de assistir a uma reportagem sobre crianças do Brasil que vivem do lixo.
Digamos que são o lixo deste país, e nós permitimos ou criamos isso. Eu mesma
já vi com estes olhos gente morando junto de lixões, e crianças disputando com
urubus pedaços de comida estragada para matar a fome.
A
reportagem era uma história de terror – mas verdadeira, nossa, deste país. Uma
jovem de menos de 20 anos trazia numa carretinha feita de madeiras velhas seus
três filhos, de 4, 2 e 1 ano. Chegavam ao lixão, e a maiorzinha, já treinada,
saía a catar coisas úteis, sobretudo comida. Logo estavam os três comendo, e a
mãe, indagada, explicou com simplicidade: "A gente tem de sobreviver, né?".
Não
sei como é possível alguém dizer que este país vai bem enquanto esses fatos, e
outros semelhantes, acontecem. Pois, sendo na nossa pátria, não importa em que
recanto for, tudo nos diz respeito, como nos dizem respeito a malandragem e a
roubalheira, a mentira e a impunidade e o falso ufanismo. Ouvimos a toda hora
que nunca o país esteve tão bem. Até que em algumas coisas, talvez muitas,
melhoramos.
Mas
quem somos, afinal? Que país somos, que gente nos tornamos, se vemos tudo isso
e continuamos comendo, bebendo, trabalhando e estudando como se nem fosse
conosco? Deve ser o nosso jeito de sobreviver – não comendo lixo concreto, mas
engolindo esse lixo moral e fingindo que está tudo bem. Pois, se nos
convencermos de que isso acontece no nosso meio, no nosso país, talvez na nossa
cidade, e nos sentirmos parte disso, responsáveis por isso, o que se poderia
fazer?
05. Assinale a
alternativa que NÃO contém uma característica comum ao texto lido:
a) É
argumentativo.
b) Trata
de uma questão relevante em termos sociais, sustentando a opinião do autor.
c) As
justificativas das posições elencadas pela autora reiteram o caráter
argumentativo do texto.
d) A autora sustenta seu ponto de vista em bases sólidas, embora não
emita opinião permitindo que o leitor a forme.
e) O
texto oferece uma análise mais detalhada e reflexiva de uma notícia veiculada
pela mídia.
06. ‘Eu mesma já vi com
estes olhos’. Assinale a alternativa que contém a melhor análise do significado
da expressão:
a) O
trecho contém um termo que repete desnecessariamente uma ideia já retratada.
b) A redundância do termo ‘já vi com estes olhos’ é legítima para
conferir à expressão mais vigor e clareza.
c) A
construção ‘eu mesma já vi’ é irrepreensível em seu emprego e constitui um
pleonasmo vicioso.
d) ‘vi
com estes olhos’ deixa a desejar a confirmação da ideia que desejou reiterar.
e) ‘eu
mesma’ contém um fenômeno chamado tautologia que se configura pela repetição
desnecessária de dois termos que se excluem.
07. Pelo termo
‘ufanismo’, entende-se:
a) orgulho exagerado
b) corrupção
c) falta
de patriotismo
d) ocultação
da verdade
e) imitação do estrangeiro
Texto III
Confira o gabarito aqui
Texto III
O que o povo quer do próximo presidente
Um bom candidato presidencial precisa estar atento às preocupações que mais afligem os cidadãos. Essa postura é necessária, primeiramente, pela razão óbvia de que ninguém ganha as eleições sem tocar nos temas mais importantes para a maioria da população. Mas há outro motivo para levar em conta a voz do povo: em grande medida, as sondagens de opinião expressam os erros e os avanços das políticas públicas, de modo que podem ser usadas como uma bússola para que o eleito priorize as questões mais relevantes.
Revista Época.Edição Nº 630. 13//06/2010
08. O texto 3 NÃO permite afirmar que
a) os candidatos à presidência sempre levam em consideração as preocupações do povo.
b) as sondagens de opinião podem servir como referência para as questões prioritárias do candidato eleito.
c) as sondagens de opinião, geralmente, revelam o que o povo considera certo ou errado nas políticas públicas.
d) um bom candidato deve estar atento aos problemas que mais preocupam o cidadão.
e) dois motivos são apontados para que um bom candidato esteja atento às preocupações do cidadão: a) ninguém ganha as eleições sem tocar nos temas mais importantes para o povo; b) conhecer os erros e acertos nas políticas públicas indicados pelas pesquisas de opinião.
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